Em Manaus, a população diagnosticada com transtorno bipolar pode contar com uma rede de serviços públicos de saúde mental que oferece acompanhamento e tratamento adequados. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA), a cidade registra um número significativo de atendimentos para pessoas com esse diagnóstico. Até o momento, 3.297 pessoas foram atendidas nas Unidades de Saúde vinculadas ao Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC). Além disso, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) não vinculados ao PEC registraram 854 atendimentos ao público adulto e 326 ao público infantojuvenil, totalizando 4.377 atendimentos.
Esses números ressaltam a importância da assistência pública para aqueles que enfrentam o transtorno bipolar e evidenciam a necessidade contínua de ampliar o acesso a esses serviços. A chefe da Divisão da Rede de Atenção Psicossocial da SEMSA, Jeane Leite, explica que o transtorno bipolar é caracterizado pela oscilação de humor e pode causar prejuízos em diversas áreas da vida do paciente.
“A principal característica é a rápida alternância de humor, entre fases de euforia (mania) e depressão, o que pode gerar dificuldades significativas na vida pessoal e profissional”, esclarece.
“Alguns podem não ter uma melhora significativa a ponto de retomar a vida social após uma crise. O transtorno é uma condição crônica, e a pessoa aprende a lidar com isso, utilizando medicações e cuidados para se reorganizar e seguir em frente”, complementa.
O jornalista amazonense Alan Lima, 28 anos, foi diagnosticado com o transtorno em 2024. Ele passou por um período difícil em 2023, quando precisou ser internado após uma crise em fase de mania.
“É uma sensação de não ter controle sobre o que pensa, fala ou faz. Os pensamentos se misturam, e você não sabe o que é real ou fantasia. Com o apoio da minha família e amigos, além do tratamento com psiquiatras, consegui voltar a ter uma vida normal”, relata Alan.
Além do diagnóstico e do acompanhamento com especialistas, Jeane sugere algumas medidas que podem fazer uma grande diferença na vida de quem lida com o transtorno.
“Ter uma boa qualidade de sono é fundamental. Para adultos, isso significa dormir pelo menos 8 horas por dia. Uma alimentação regular também é crucial, pois a falta de sono e uma dieta irregular podem desencadear crises, mesmo em pessoas que fazem uso regular de medicação”, alerta.
A Dra. Ana Paula Lima Correia Amanajás, médica, neurocientista e especialista em comportamento e saúde mental revelou que mesmo sem dados específicos, devido à dificuldade no diagnóstico, é possível que cerca de 60 mil pessoas convivam com o transtorno no Amazonas
“Com aproximadamente 4,2 milhões de habitantes, aplicando a média mundial de prevalência, podemos inferir que entre 36 mil e 60 mil pessoas podem estar convivendo com o transtorno bipolar no estado. Isso mostra a importância de termos mais consciência sobre a doença e de disponibilizarmos mais recursos para diagnóstico e tratamento”, explicou.
Segundo a especialista, o diagnóstico do transtorno bipolar muitas vezes é demorado e pode ser confundido com outras condições.
“Infelizmente, o transtorno bipolar não é fácil de ser diagnosticado, as oscilações de humor podem ser interpretadas como algo “normal” ou parte do jeito da pessoa, o que retarda a busca por ajuda. Por isso, a educação emocional e o olhar atento de um médico especialista em saúde mental são fundamentais para um diagnóstico preciso”, concluiu.
Geralmente, as pessoas próximas são os primeiros a notarem os sinais de mudança no funcionamento do indivíduo.
Durante a fase de mania, por exemplo, a pessoa pode se tornar extremamente determinada a realizar projetos irreais, apresentar pensamentos acelerados e muitas vezes desorganizados, além de irritabilidade, impulsividade e falta de sono.
Mês de conscientização:
O pintor Vincent Van Gogh, que possivelmente sofria do transtorno, nasceu em março, mês que também ficou conhecido como o mês internacional de atenção ao transtorno bipolar. A data acende um alerta sobre a importância do tratamento para a qualidade de vida dos pacientes
Serviços Públicos em Manaus
A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Manaus oferece diversos serviços especializados para quem possui o diagnóstico de transtorno bipolar. As Unidades de Saúde da Família (USFs), localizadas em todas as zonas da cidade, são um ponto de entrada importante para quem busca atendimento. Nas Policlínicas, as pessoas com transtornos mentais de nível moderado recebem cuidados mais especializados, com a presença de psicólogos e, nas policlínicas estaduais, psiquiatras também. A marcação para atendimento nas unidades estaduais é realizada por meio do Sistema de Regulação (SISREG).
Os CAPS oferecem suporte especializado para pessoas com transtorno bipolar, atendendo tanto adultos quanto crianças e adolescentes, conforme a necessidade do paciente. Em situações de crise, o CESMAM é a unidade indicada. Localizado na Av. Des. João Machado, o CESMAM oferece atendimento 24 horas para urgências e emergências em saúde mental. Caso necessário, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), pelo número 192, pode ser acionado